Fotógrafo documenta cenas do cotidiano no bairro mais alto de São Paulo

No Jaraguá localizam-se os três maiores morros da cidade de São Paulo. De um lado, encostados na rodovia Anhanguera, estão o Pico do Papagaio (1.127m) e o Pico do Jaraguá (1.135m); e do outro, na borda da Cantareira, está o elevado das Torres Parque Taipas (+/- 1.211m), onde vive há 30 anos o Rogério Sousa Silva (33), que é conhecido de ponta a ponta em sua comunidade por causa de sua habilidade fotográfica.

No horizonte, o Pico do Jaraguá (antena maior) e o Pico do Papagaio (antena menor). Foto: acervo Rogério / Trilha Favela
No horizonte, o Pico do Jaraguá (antena maior) e o Pico do Papagaio (antena menor).
Foto: acervo Rogério / Trilha Favela
As fotos produzidas por Rogério são elegantes e diferenciadas. Talvez, por isso, em janeiro de 2017 algumas delas foram utilizadas pelo site norte-americano Urban Pitch para ilustrar uma matéria sobre futebol de rua.

Rogério conta que começou a estudar Fotografia no final de 2011 no Senac e que, neste processo, precisou fazer exercícios que requeriam a publicação das imagens que produzia na internet. Foi aí que ele criou o Trilha Favela, "esse nome era para mostrar um pouco a parte da mata da Serra da Cantareira, as trilhas que eu sempre curti muito em contraste com a favela, com a periferia, que também é muito forte aqui", explica. Hoje, o projeto soma mais de 3 mil seguidores nas redes sociais.

A comunidade Parque Taipas e o elevado Parque Taipas, na borda da Cantareira, integrados. No alto desse morro, cicloturistas mediram 1.211 metros de altitude com os aplicativos Strava e Wikiloc. Foto: Rogério / Trilha Favela
A comunidade Parque Taipas e o elevado Parque Taipas, na borda da Cantareira, integrados.
No alto desse morro, cicloturistas mediram 1.211 metros de altitude com os aplicativos Strava e Wikiloc.
Foto: Rogério / Trilha Favela
O fotógrafo periférico Rogério Sousa Silva em um cenário peculiar da borda da Cantareira Núcleo Taipas
O fotógrafo periférico Rogério Sousa Silva em um cenário peculiar da borda da Cantareira Núcleo Taipas
Para fazer os registros, o fotógrafo não tem nenhum receio de passear pelo morro do Parque Taipas, seja na parte da mata ou na parte das ruas, com uma câmera DSLR pendurada no pescoço e outros caríssimos equipamentos que a namorada, Ariana Matos Gonçalves, o ajudou a comprar. Ele diz que sempre preferiu andar equipado em sua comunidade do que ir para o centro de São Paulo, onde aí sim tem medo de que alguém roube suas coisas.

Atualmente, para sobreviver, Rogério atua como educador em instituições públicas e realiza trabalhos fotográficos remunerados em eventos como casamentos, batizados e aniversários, entre outros. Só nas horas vagas é que ele se volta ao seu projeto voluntário para o qual clica cenas do cotidiano como a paisagem panorâmica do bairro, a fauna e a flora da Cantareira, os jogos de futebol no campinho de terra ou na Arena Taipas, os eventos organizados pelo Coletivo Salve Kebrada, a linha ferroviária, o dia a dia dos estabelecimentos comerciais, a vida nos barracos, casas e sítios do lugar.

Pôr-do-sol no campinho do Parque Taipas. Foto: acervo Rogério / Trilha Favela
Pôr-do-sol no campinho do Parque Taipas. Foto: acervo Rogério / Trilha Favela
A roupa lavada no varal e uma lâmpada "de luz solar". Foto: Rogério / Trilha Favela
A roupa lavada no varal e uma lâmpada "de luz solar". Foto: Rogério / Trilha Favela
O fotógrafo é seletivo. Ele está constantemente em busca de padrões, ações e situações que valham a pena ser documentados. Pode ser um cesto de dentes de alho na mercearia, uma planta exótica no meio da mata, as silhuetas dos jogadores em uma partida de futebol, uma cena noturna, o pôr do sol à tardezinha ou a ação das nuvens que, pela manhã, cobrem todo o distrito e deixam apenas as antenas do Pico do Jaraguá à mostra.

"Eu não costumo colocar todas as fotos que eu tiro na fanpage do Facebook e nem na fanpage do Instagram, que são as principais do Trilha Favela. Ponho somente algumas que eu acho que servem como registro histórico", diz, "a grande maioria eu mando pelo WhatsApp e lá o pessoal distribui para os amigos e familiares deles".

Foto noturna clicada a partir do elevado Parque Taipas, um dos lugares mais altos da cidade de São Paulo, limite entre a periferia e a mata da Serra da Cantareira. Foto: acervo Rogério / Trilha Favela
Foto noturna clicada a partir do elevado Parque Taipas, um dos lugares mais altos da cidade de São Paulo, limite entre a periferia e a mata da Serra da Cantareira. Foto: acervo Rogério / Trilha Favela
Churrasco em uma rua qualquer do Parque Taipas. Foto: Rogério / Trilha Favela
Churrasco em uma rua qualquer do Parque Taipas. Foto: Rogério / Trilha Favela
Sobre projetos futuros, Rogério diz que o sonho da maioria dos fotógrafos é viver da arte e com ele não é diferente. Porém, revela que tem consciência de que o mercado é muito amplo e difícil, "eu acho que sou pequeno dentro da Fotografia e não sei se um dia vou alcançar alguma coisa nesse ramo, mas o meu sonho é viver disso", diz.

Sobre o Autor:
Marinaldo Gomes Pedrosa Marinaldo Gomes Pedrosa é formado em Jornalismo pela UniSant'Anna. Vive no bairro Jaraguá desde 1976.

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