Entrevista com o artista plástico jaraguense Dinas Miguel

Dinas Miguel em ação
Dinas Miguel em ação
O jovem artista morador do bairro Jaraguá Dinas Miguel já realizou intervenções artísticas em várias cidades do Brasil e em outros países da América Latina como o Chile, a Argentina e o Uruguay, nos quais expôs trabalhos em graffiti street art, telas, educação ambiental e artística. Ele também é o idealizador do Cultura & Conceito, um evento que já está em sua terceira edição. Em 2017 ele esteve à frente de um projeto junto aos índios guaranis do distrito (acesse o post "Artistas urbanos produzem grafite no Território Indígena Jaraguá" para saber mais).

Licenciado em Artes Visuais e pós-graduado em Educação Ambiental, ele tem utilizado toda a sua experiência acadêmica e prática na realização de intervenções ao vivo, workshops, jobs residenciais e empresariais, aplicação de oficinas culturais e curadoria de exposições, dentre outros trabalhos listados em seu site <www.dinasmiguel.com>.

Nesta entrevista realizada pelo editor do blogue Jaraguá SP, Marinaldo Pedrosa, Miguel fala sobre as diferenças da arte em geral do passado e do presente, comenta quais são os maiores desafios para quem está começando e expõe como é seu processo criativo. Confira!

Marinaldo Pedrosa: o que mais diferencia a arte em geral do passado da arte em geral de hoje?

Dinas Miguel: a principal diferença é a quantidade de informação com que contamos hoje e a rapidez com que as coisas acontecem. Podemos visitar um museu sem sair de nossas casas ou mesmo estabelecer contato com um artista ou sua obra que está do outro lado do mundo. Acho tudo isso muito fantástico.

Mas gostaria de ressaltar que devemos tomar muito cuidado para não cometermos o grande erro de dizer que a arte evoluiu ou mesmo que o que se produz hoje é melhor que tudo aquilo que já foi produzido ou vice e versa.

Porém, se não podemos dizer que a arte evoluiu, é possível dizer que ela se modificou em relação as técnicas, materiais, suportes e discursos, entre outras coisas.

Arte de Dinas Miguel. Série "Grite, proteste, manifeste" - Mural SP, CPTM, Pirituba
Arte de Dinas Miguel. Série "Grite, proteste,
manifeste" - Mural SP, CPTM, Pirituba

MP
: atualmente, quais são os maiores desafios de um artista em início de carreira?

DM: acredito que os desafios surgem para todo artista em diferentes fases de sua vida. Por outro lado, vejo que um dos grandes desafios contemporâneos é a questão do imediatismo, principalmente em relação a entender que cada um tem seu tempo e que muitos dos grandes artistas conquistaram seu espaço aos poucos, por meio de muito erros e acertos.

Creio que existem diversas oportunidades, porém é necessário humildade e persistência para poder conquistar seu próprio espaço. É preciso ter sempre o pé no chão e lembrar que temos que ser resilientes, pois “ninguém é melhor que ninguém, as pessoas são diferentes”.


MP: como se estabelecer no mundo das artes?

DM: essa pergunta é muito difícil, já que não existe uma fórmula mágica e que sei que ainda não cheguei lá (risos). Mas sou a favor da teoria de que “existem várias respostas certas”. Temos que ver onde melhor nos encaixamos. É muito importante produzir e criar muito, além de se articular e formar parcerias para assim aprender muito e ensinar muito.

MP: o filósofo Rubem Alves diz que "Ostra feliz não produz pérola". Isto é, a criação na ciência ou na arte provém de experiências dolorosas. Você concorda com isso? Como você cria a sua arte?

DM: sei que as dores e os erros fazem parte do processo de criação e podem nos fazer permear por caminhos ainda desconhecidos. Mas busco, na medida do possível, transformar toda a dor em amor, transpondo essas diversas sensações e emoções em arte, por meio de mensagens subliminares, temas sociais e ambientais, símbolos, palavras e signos alguns explícitos e outros nem tanto, mas que fazem muito sentido para tudo que vivo. Esses desequilíbrios são muito úteis e nos situam no mundo, mas gosto e aprecio meu otimismo.

Obra de Dinas Miguel. Série Equidade. Consciência Negra.
Obra de Dinas Miguel. Série Equidade. Consciência Negra.

MP: como você analisa os projetos que já fez até aqui?

DM: muito engrandecedor! De fato, eles possibilitaram me tornar um ser humano muito melhor, pois tive a oportunidade de desenvolver minha arte em distintos lugares, onde conheci muitas pessoas e compartilhei arte, ideias e sentimentos com elas. Também sou muito grato a todos os projetos educacionais que já desenvolvi. Trabalhei com diferentes públicos (crianças, escolas públicas e privadas, comunidades, com a Fundação Casa, com a classe AA, pessoas especiais, com a periferia e zona nobre e até moradores de rua). Sem dúvida, uma escola de vida.

MP: olhando para a sua arte hoje, você percebe que já tem uma linha consolidada? Qual seria esta linha?

DM: realizo trabalhos lúdicos e realistas, mas sou muito curioso e busco experimentar técnicas, materiais e suportes diferenciados. Também tenho projetos nos quais abordo temas sociais, dentre eles posso destacar a série “Equidade”, onde minhas criações questionam o direito das mulheres, racismo, acessibilidade, dentre outros temas de grande relevância social.

MP: qual sua visão do futuro em relação à sua arte?

DM
: como relatei, gosto muito de experimentar e criar, pois valorizo muito o processo de criação. Tenho alguns projetos em andamento e muitos outros que ainda quero realizar. Espero que minha arte possa cada vez mais se comunicar e interagir com as pessoas. Cada apreciação e leitura visual é um presente imenso que eu recebo com muito carinho e respeito.
Sobre o Autor:
Marinaldo Gomes Pedrosa Marinaldo Gomes Pedrosa é formado em Jornalismo pela UniSant'Anna. Vive no bairro Jaraguá desde 1976.

Comentários

  1. Excelentes questões as que foram levantadas e as respostas foram maravilhosas. Parabéns!

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  2. Que a arte do graffiti seja conduzida cada vez mais por esses artistas como Dinas pelo mundo todo, ganhando respeito, e ser uma escolha de vida para quem busca sustentabilidade social e profissional. Este cara é um bom parceiro!

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