Peça teatral no Jaraguá aborda a luta das Mães de Maio

Na tarde da última quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018, o coletivo de artistas "Selo Homens de Cor" encenou a peça "Negror" no distrito Jaraguá, às portas da estação de trens de mesmo nome. A intervenção rememorou a luta das Mães de Maio.

Artistas que encenaram a peça "Negror" no Jaraguá: Sidney Kuanza,  Larissa Nunes, Pedro Guimarães e Victor Bassi.  Foto: acervo Selo Homens de Cor
Artistas que encenaram a peça "Negror" no Jaraguá: Sidney Kuanza,
Larissa Nunes, Pedro Guimarães e Victor Bassi.
Foto: acervo Selo Homens de Cor
Mães de Maio é como ficou conhecido o movimento de ativistas que se originou depois da onda de assassinatos ocorridos entre os dias 12 e 17 de maio de 2006, quando 493 pessoas foram mortas por armas de fogo em São Paulo (450 civis e 43 agentes públicos, segundo a Secretaria de Segurança Pública).

"Essas mães são mulheres que tiveram seus filhos assassinados naqueles dias durante uma ofensiva da Polícia Militar (PM) do Estado de São Paulo contra o PCC, quando foram mortas dezenas de pessoas inocentes", explica o diretor da peça, Sidney Santiago Kuanza.

Kuanza diz que o projeto é apoiado pelo PROAC Culturas Negras. Ele informa que a intervenção "Negror" está sendo realizada em diversos lugares que possuem a questão do genocídio como pauta central e local, tais como Capão Redondo, Diadema e Ribeirão Pires, por exemplo, e que por isso o Jaraguá foi um dos escolhidos.
A peça conta com quatro artistas, dentre os quais Larissa Nunes que representa os familiares que ficam quando um primo, um irmão ou um jovem parente negro é vítima de algum genocídio, "eu dramatizo aquela mãe que teve um filho assassinado e que passa por um período de luto e, na sequência, pela transição do luto à luta. Minha atuação passa pelo sofrimento que é para uma mãe ter que continuar sua vida depois de ter tido um filho assassinado pela PM, um filho assassinado em condições que não vêm à tona, em crimes que não têm resolução", ela comenta.

Intervenção ocorreu às portas da estação Jaraguá. Foto: Marinaldo Gomes Pedrosa
Intervenção ocorreu às portas da estação Jaraguá.
Foto: Marinaldo Gomes Pedrosa

Segundo Larissa, a proposta do projeto é conscientizar e sensibilizar as famílias acerca dessa realidade da violência, de unir forças com a população para deixar uma mensagem clara daquilo que realmente é o que tira a vida dos jovens negros do Brasil.

"Trabalhamos com dados reais de violência urbana", diz Kuanza, "nós temos a polícia que mais mata no mundo e a polícia que mais morre no mundo. Isso é importante dizer, que tanto o policial quanto o bandido entre aspas (esse vulnerável que opta pelo crime por uma série de questões sociais) surgem no mesmo criadouro".

A peça "Negror" termina com a frase "O maior mal que a escravidão nos fez foi ter nos tornado inimigos de nós mesmos", a qual é repetida várias vezes e resume qual o criadouro a que Kuanza se refere.

Sobre o Autor:
Marinaldo Gomes Pedrosa Marinaldo Gomes Pedrosa é formado em Jornalismo pela UniSant'Anna. Vive no bairro Jaraguá desde 1976.

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