O extermínio das abelhas indígenas por inanição e os erros dos livros de Botânica

Comecei a primeira aula (realizada em 16 de setembro de 2017) do “Curso de criação racional de abelhas sem ferrão” na Tekoa Ytu (Aldeia da Cachoeira), no bairro Jaraguá, projetando diapositivos (slides) e mostrando flores de diversas espécies de vegetais nativos, sobre as quais foram fotografadas abelhas indígenas de diversas espécies coletando alimentos. Em tais imagens, eu mostrei tanto abelhas de espécies eussociais (que vivem em sociedade), quanto de espécies solitárias, e também abelhas africanas coletando alimentos das flores das mesmas espécies de vegetais.

Da esquerda para a direita, o indígena Jurandir, a voluntária Maria Carolina Moraes e eu (Mitsiotis) alimentando com xarope as abelhas da Tekoa Ytu (Aldeia da Cachoeira) onde se realiza o curso.
Da esquerda para a direita, o indígena Jurandir, a voluntária Maria Carolina Moraes e eu (Mitsiotis) alimentando com xarope as abelhas da Tekoa Ytu (Aldeia da Cachoeira) onde se realiza o curso.
Do livro escrito por professores da USP, intitulado “Flores e abelhas em São Paulo” (edição 1994), mostrei a segunda metade do primeiro parágrafo da página 22, que tem a seguinte afirmação dos autores:
“Quanto há um aumento no número de ninhos da A. mellifera em um local e, consequentemente, muitas campeiras passam a procurar alimento nos arredores das colônias, o número de meliponíneos nas flores decresce.”
Depois de explicar para os alunos o significado de “ninhos da A. mellifera e colônias (de meliponíneos), apresentei um gráfico no qual se mostra a grande diferença no volume de alimentos coletados num dia de trabalho pelas abelhas campeiras de uma colônia populosa de mandaçaia (colônia forte de 2.000 abelhas) e de uma colônia populosa de africanas (colônia forte de 60.000 abelhas).

Para facilitar aos alunos não descrevi o sistema de recrutamento de campeiras pelas abelhas batedoras, o qual é de natureza complexa e variável, e de modo simples se considerou a quarta parte das abelhas de cada colônia como campeiras (coletoras de alimentos) e que para cada 500 indivíduos sai uma batedora.

Num amanhecer com tempo favorável, depois de vários dias de tempo extremamente desfavorável, sai da colmeia da mandaçaia uma campeira-batedora que localiza fonte de alimento, coleta e retorna à sua colmeia, descarrega, “dança” para indicar para suas irmãs a direção, a distância e a qualidade da fonte, e recruta apenas uma irmã-campeira.

Na segunda saída da batedora ela vai acompanhada da recrutada. Ambas vão, coletam e retornam à colmeia onde, após descarregarem, “dançam” e cada uma recruta somente uma campeira-irmã. Na terceira saída da batedora saem 4 abelhas no total.

Da colônia forte das abelhas africanas sai uma batedora a cada 500 campeiras (60.000/4= 15.000 x 2 = 30 batedoras). Procuram, localizam fontes de alimentos, coletam, retornam na colmeia, descarregam, “dançam” e cada uma batedora recruta apenas uma irmã-campeira. Dessa maneira na segunda saída das batedoras africanas, saem 60 abelhas para coletarem e elas chegam nas fontes localizadas, coletam, retornam na colmeia, descarregam, “dançam” e recrutam cada uma somente uma irmã-campeira. Nesse ponto, o total de abelhas que saem é de 120. E assim prossegue o aumento de abelhas recrutadas.
Saída de campeiras africanas e mandaçaias.
Saída de campeiras africanas e mandaçaias.
E dessa maneira prosseguem saindo e coletando, e a diferença no volume de alimentos fica cada vez mais visível.

Perguntei aos alunos:

- Se implantarmos um eucaliptal numa área na qual não há vegetação alguma e o eucaliptal se desenvolver e começar a florir, a quem pertencem o néctar e o pólen? Para as africanas (abelhas exóticas e flores de vegetal exótico) ou para as abelhas indígenas?

Não consegui confundi-los, pois em uma voz responderam:

- Às indígenas!

Daí, voltei a perguntar:

- Pelos diapositivos (slides) que projetei e pelo gráfico, vocês consideram que os apicultores que criam africanas ou africanizadas são protetores das abelhas indígenas? 

Ao que os alunos responderam:

- Não são protetores das abelhas indígenas.

Muito bem. Já em outra parte da aula, eu disse aos estudantes que nunca aceitei o termo “poliginia” usado pelos cientistas do Brasil, com o qual se referem ao fenômeno natural, espontâneo e frequente observado nas colônias de abelhas da espécie Guaraipo (Melipona bicolor Shenki Gribodo 1893) que possuem no ninho das crias várias rainhas com ovários ativados e ovipondo no mesmo favo. O termo poliginia não define com clareza a composição da colônia, uma vez que operárias, princesas e rainhas são todas fêmeas e todas põem ovos. As rainhas põem ovos fecundados e não fecundados e as operárias põem ovos não fecundados, denominados tróficos.

Poliginia significa “muitas mulheres para um homem”. Na Biologia usa-se esse termo para definir muitas fêmeas para um macho (muitas cabras para o mesmo bode, muitas galinhas para o mesmo galo e etc.).

O que esclarece melhor a composição de colônias das abelhas Guaraipo, quando se encontra várias rainhas com seus ovários ativados é o termo “colônia polimatriarcal”. E de acordo com o número de rainhas de ovários ativados, encontradas no mesmo ninho das crias, isto é, gerando óvulos e ovipondo no mesmo favo, se classifica como dimatriarcal, trimatriarcal, tetramatrialcal, pentamatriarcal, etc.

Todos os alunos concordaram que o termo “polimatriarcal” define melhor a situação, além do que os apicultores sempre acreditaram que a rainha é quem governa na colônia.
Eu, a Carolina e o Jurandir no meliponiário da Tekoa Ytu (Aldeia da Cachoeira).
Eu, a Carolina e o Jurandir no meliponiário da Tekoa Ytu (Aldeia da Cachoeira).
Eu aproveitei o momento da aula para presentear os alunos com novidade adicional. Fiz na lousa um diagrama mediante o qual expliquei que o fenômeno que os cientistas chamaram impropriamente de poliginia, em realidade representa indireta poliandria. Sabe-se que a Guaraipo é espécie monogâmica. As rainhas acasalam uma única vez em sua vida com único zangão e após a cópula viram viúvas para o resto de suas vidas. Porém a sábia natureza arquitetou ou inventou a “polimatriarcalidade”, que gera diversidade gênica no mesmo ninho das crias por indireta poliandria formada (ou representada) pelos zangões que fecundam as rainhas-filhas.

E, mais adiante na aula, disse aos alunos que venho pesquisando há 20 anos, que mergulhei no assunto e permaneci pesquisando, e que quase esqueci da minha vida, de viver minha vida, por eu ter encontrado erros nos livros de Botânica. Me refiro aos erros quanto à altura máxima de árvores, quanto à maneira (meio) de multiplicação artificial de vegetais sem o uso de substâncias químicas (estaquia e diversas outras tradicionais). E também encontrei erros nas obras de outros autores que se referem às épocas da floração e duração da floração, de várias espécies de vegetais nativos, não deixando clareza se tratam-se de florações contínuas ou periódicas sazonais.

Tais obras causam prejuízo aos plantadores pois a altura das árvores ou arvoredos, indicada pelos autores dos livros, não é a verdadeira e os vizinhos dos plantadores os processam e os obrigam a arrancar todas as árvores por causa da sombra que elas projetam nos terrenos dos vizinhos.
Como comprador de livros (espécie de “consumidor”) tenho o direito e o dever de me defender, e os autores e os editores (publicadores) de livros com erros, por lógica, devem ser enquadrados na mesma lei que controla a qualidade dos serviços das montadoras de automóveis.

As montadoras em caso de se constatar erro de fabricação de uma peça do automóvel anunciam “Recall” e assumem os prejuízos, enquanto que o autores e publicadores de livros de Botânica não assumem nenhuma responsabilidade, apenas lucram, mesmo difundindo os erros multiplicados em dezenas ou centenas de milhares de outros erros. Os livros com erros comprováveis afetam a economia do povo e da nação, enquanto que nas universidades formam-se profissionais com dados botânicos errados, e ainda nós consumidores ficamos obrigados a comprar de novo e da mesma editora, o livro da nova edição corrigida e ampliada, do mesmo autor.

Minha opinião é que as editoras ou os autores dos livros com erros comprováveis abram página na internet divulgando as erratas, até que se publique a segunda edição (corrigida e ampliada).

Todos os alunos aprovaram a maneira de se proteger o consumidor, pois os erros dos livros de Botânica e tudo o que decorre deles não causa prejuízo nem ao autor e nem ao editor.

Com tudo o que acabei de relatar, conclui-se de que o dia da primeira aula foi muito produtivo e meus alunos mostraram possuir bastante luz ao discernir que com as abelhas africanas livres na natureza, com a Apicultura com africanas e “africanizadas” recebendo fortes financiamentos e, paralelamente, com a Meliponicultura sem financiamento, não é possível acreditar que se preserva a flora e fauna nativas, pois eles agora sabem de que as abelhas africanas e as africanizadas não são aerófagas, isto é, não se alimentam de ar. As africanas e as africanizadas roubam os alimentos produzidos pela flora nativa e as abelhas indígenas são exterminadas lentamente por falta de alimento, por inanição.

Leia mais sobre Mitsiotis (nota do Jaraguá SP Post):

Sobre o Autor:
Nikolaos Argyrios Mitsiotis Nikolaos Argyrios Mitsiotis foi o fundador da Associação Paulista de Apicultores Criadores de Abelhas Melíficas Europeias. É pesquisador autodidata.

Comentários

  1. Excelente! O maior apicultor e pesquisador apícola do mundo. Gratíssima por colaborar com um mundo melhor.

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  2. Vi o post sobre o curso depois dele ter iniciado, entrei em contato pelo e-mail e numero aqui no site descrito, porem não sanaram minhas duvidas, talvez o criador do blog me ajude, vão ser formadas mais turmas?, qual o valor total do curso?, preciso de um certificado para apresentar à faculdade, se eu solicitar terei meu certificado?
    Obrigada desde já

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    1. Olá! Entrei em contato com o técnico apicultor Nikolaos e levei a ele as suas dúvidas. Ele disse que o curso não tem certificado e que não pode afirmar se haverá novas turmas. Ele me contou que apenas ministra o curso e que a parte de comunicação direta com os interessados fica por conta da aldeia. O valor do curso é de R$ 70,00 por dia de curso. Toda a arrecadação vai para a aldeia, que deverá usar o lucro para montar uma mini-padaria para a produção de pão para os índios. O técnico Nikolaos, por sua vez, presta o serviço voluntariamente e não recebe nenhuma quantia em dinheiro por isso.

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    2. Obrigada, adreço muito pela sua atenção e dedicação ao blog, é o melhor que já vi sobre o jaraguá, continue com esse belo trabalho.

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    3. Nós é que agradecemos pela sua participação. Tenha uma boa tarde! :-)

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  3. Excelente matéria. Jaraguá está de parabéns por abrigar esse ativista. Nikolaos, perfeito!

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    1. Obrigado pela participação, Denise! Realmente, além de ativista ele é um grande apicultor.

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